O automóvel de hoje é sem dúvida, o representante mais humilde da espécie automóvel e no entanto transformou-se num mito. Muitas vezes gozado pela sua estética inimitável e pelas suas prestações. O Citroën 2CV, é hoje sinónimo de simpatia e nostalgia. Passados 75 anos após a sua apresentação, o Citroën 2cv é um dos automóveis mais procurados pelos colecionadores. Considerado por muitos, bem mais do que um automóvel, mas sim um estilo de vida.
“Este deverá ser um carro capaz de transportar quatro passageiros e 50 quilos de mercadorias. Este veículo deverá circular por caminhos rurais sem dificuldades e no deverá ser de fácil condução para ser conduzido por principiantes. O seu conforto deverá ser irrepreensível, podendo transportar um cesto de ovos sem os quebrar ao atravessar um terreno lavrado. Por fim, este deverá atingir como velocidade máxima os 60 km/h, um consumo de 3 litros aos 100 km, e sobretudo deverá ser barato. O seu aspecto fisico pouco importa.”

Estas foram as palavras de Pierre Boulanger, o então dirigente da Citroën quando em 1935 apresentou o caderno de encargos do novo projeto do construtor aos “chevrons”, à sua equipa. O seu objetivo, era propor um automóvel acessível à população maioritariamente rural da França dos anos 30.
Esta é uma ideia que floresce um pouco por toda a Europa, a de facilitar o acesso ao automóvel às grandes massas. A Italia com o Fiat 500 Topolino e a Alemanha com o projeto em marcha do Volkswagen Carocha e a França com o Renault 4cv.
A origem
Desde cedo a Michelin mostrou interesse no assunto, encomendando um estudo de mercado para apurar as verdadeiras necessidades da população. Ao assumir o controlo da Citroën, a marca de pneumáticos francesa viu aí a oportunidade de dar inicio ao projeto de criar um automóvel popular, que iria mais tarde chamar-se 2CV.

Com base neste estudo de mercado a equipa da Citroën pôs mãos à obra. Sendo este um conceito totalmente novo, os engenheiros da marca francesa reputados pelo seu espirito inovador e revolucionário vão dar asas à imaginação para atingir os objetivos.
Esta no entanto, revelar-se-á uma tarefa difícil. Pois é muito mais complicado de se restringir ao essencial e eliminar tudo o que é supérfluo, do que acrescentar equipamentos num automóvel. Mas os homens da Citroën vão fazer prova de grande engenhosidade.
Pronto para ser apresentado ao publico no salão de Paris em 1939, a história ditará outro destino. Com o anúncio da 2ª guerra mundial, a apresentação foi anulada e os protótipos foram escondidos dos invasores alemães.

Este acontecimento, de certa forma foi o melhor que podia ter acontecido, pois permitiu a Pierre Boulanger e a sua equipa de aperfeiçoar em segredo o projeto. O que trouxe enormes vantagens, sobretudo no campo estilístico, com a participação de Flaminio Bertoni, que tornaria o novo modelo bem mais atraente, a quem inicialmente tinha sido negada a sua entrada na equipa.
A hora da verdade
Chegado o fim do conflito, a Europa atravessa um período de renovação e esperança, pelo que todos anseiam por novidades dos lados da Citroën. No entanto, nada de novo no 1º Salão de Paris pós-guerra de 1946. A imprensa impacienta-se, mas Pierre Boulanger mantém-se firme e não quer precipitar o lançamento do novo modelo.

Será necessário esperar pelo certame de 1948, para ver surgir os três protótipos do novo Citroën 2cv. Se o objetivo era surpreender o publico, este foi plenamente conseguido, estão todos estupefactos. Os jornalistas, assim que o publico acham o automóvel feio e estão desiludidos. Os jornalistas chegam mesmo a dizer que este automóvel não tem futuro. Não podiam estar mais errados !!
Outro segredo que ficou ainda por desvendar foi o motor. Durante este primeiro contacto com o público, os protótipos tinham o capô selado. Sabia-se que o motor se tratava de um bicilindrico, mas pouco mais. O seu desenvolvimento tinha sofrido um ligeiro atraso.

Mas o que é um 2 cv?
Esta foi sem dúvida a questão recorrente do publico. Apesar do seu estilo controverso, o publico pôde finalmente ver o que faz do 2cv um automóvel único e inovador, o que condiz plenamente com a imagem de marca da Citroën. Senão vejamos:
O Citroën 2cv é um automóvel de tracção dianteira, o que na altura era ainda pouco comum. O motor era um bicilindrico Boxer extremamente simples, arrefecido a ar que prescindia da junta de culassa para uma maior durabilidade . O sistema de suspensão era também ele inovador, unindo as rodas da frente às rodas traseiras de cada um dos lados, o que trazia grandes vantagens em termos de conforto e de comportamento dinâmico.
A carroçaria estava dotada de novo sistema de calhas chamado de Yoder, que permitia desmontar as portas e o capô sem quaisquer ferramentas. No interior, os bancos eram constituídos de tecido suspenso por meio de elásticos, um método simplista mas muito confortável.

Um ano depois da sua apresentação e respectiva homologação, o Citroën 2cv A pode finalmente ser comercializado. Depois das duras criticas de 1948, o público começa a perceber finalmente o conceito do 2cv. Este tem um potencial enorme, trata-se de um automóvel simples, mas muito confortável e acessível aos lares mais modestos.

A produção começa, mas está longe de satisfazer a procura. A escassez de matéria prima e a complexidade de fabricação obrigam a Citroën a seleccionar os futuros compradores do 2cv, privilegiando aqueles a quem inicialmente o projeto 2cv se destinava — a população rural.
A hora da consagração
Os primeiros exemplares são enfim entregues, pouco mais de mil unidades serão produzidas neste primeiro ano de produção. Tal como aconteceu com o Ford T, também o Citroën 2cv estava disponível numa única cor, neste caso tratava-se de um cinza metalizado. Os clientes podem finalmente conhecer a motorização que equipa o 2cv, trata-se de um pequeno motor bicilindrico de 375 cm3, com uma potencia de 9 cv. Apenas o necessário para mover os 510 quilos do conjunto a uma velocidade máxima de 65 km/h ( a descer é claro).

O Citroën 2cv é um verdadeiro sucesso, a produção não chega para as encomendas. O tempo de espera para receber o seu 2cv é de aproximadamente 1 ano. Aos poucos, a cadência de produção vai aumentando, passando de 6196 unidades em 1950, para atingir as cerca de 35 mil unidades em 1953.
A marca francesa não precisa de se preocupar em fazer publicidade, isto não a impede de ir aperfeiçoando o seu popular modelo. Em 1952 chega a sua primeira evolução, o Citroën 2cv muda de cor, continua apenas disponível na cor cinza, mas esta agora já não é metalizada. No ano seguinte, cabe ao interior de ser renovado com novos padrões de tecidos para os bancos.

Gozado pelas suas prestações anímicas, o pequeno 2cv continua a sua carreira tranquilo. A aventura está apenas agora a começar, pelo que os clientes ainda vão ter esperar algum tempo para ver chegar o tão desejado aumento de potência.
PACIENCIA…