Para a maioria dos entusiastas, o automóvel de hoje é o Porsche por excelência. Potência, performance e polivalencia são as características que transformaram o Porsche 911 num ícone do mundo automóvel. Uma história de 60 anos, em que este se impôs como o desportivo de referência.

Quando colocamos um dos primeiros 911 ao lado do seu último descendente, o Type 992, é flagrante a incrível diferença de tamanho entre os dois. Somos surpreendidos pela corpulência desta última geração, mas antes de mais, estamos gratos aos engenheiros alemães de terem conseguido conservar o espírito original ao longo das oito gerações. Esta é sem dúvida a maior força do Porsche 911.
A de manter a sua identidade e integrar as mais variadas revoluções tecnológicas ao longo destes 60 anos. O Porsche 911 continua presente com o seu estilo intemporal, continua presente apesar das ameaças das normas de segurança e anti poluição, e continua presente apesar de alguns dos seus dirigentes terem deixado de acreditar no seu futuro.
A origem
O Porsche 356 é um sucesso de vendas. Com o aproximar da década de 60, os dirigentes da marca sabem que está na hora de substituir o pequeno desportivo. Para um modesto construtor, substituir o seu best-seller não é tarefa fácil, as dúvida povoam nas cabeças dos dirigentes: irá o novo modelo seduzir a clientela e continuar o sucesso do seu antecessor?

Ferry Porsche defendia a ideia de que um bom desportivo deve ser capaz de transportar a família, pelo que desejava que o novo modelo mantivesse o ar de família com o 356, mas que também fosse de maiores dimensões. O objetivo é que este novo modelo seja mais qualitativo, para isso, decide substituir o motor 4 cilindros derivado do Carocha e por um novo motor boxer de 6 cilindros.

Em 1959 deu-se inicio ao desenvolvimento do novo modelo, com o código interno de Type 754 sob a direção de Butzi Porsche que era o responsável pelo design. O design revolucionário do Type 754, também conhecido por T7 agradava bastante, este caracterizava-se por vidro traseiro de grandes dimensões, o que lhe dá muito mais luminosidade no habitáculo comparativamente ao 356.

O protótipo T7 está praticamente pronto e poderia ter sido colocado em produção, mas isso era sem contar com o desejo de perfeição de Ferry Porsche, que soube ver as falhas deste modelo e que tomou a decisão de abandoná-lo para apostar numa carroçaria ainda mais desportiva.
Se o Porsche Type 754 (T7) nunca chegou à produção, o seu estilo, o seu bom nível de acabamento e os seus muitos desenvolvimentos técnicos, fazem dele um modelo Porsche por si só, que teve o mérito de criar as bases para o futuro Porsche 911.
901 ou 911?

Apresentado em 1963 em Frankfurt, o novo Porsche 901 suscita uma reação do público aquém do esperado. Apesar do conceito ser o mesmo de que o seu antecessor, os clientes da marca germânica — tal como a história se encarregará de confirmar mais tarde, têm tendência a demonstrar uma forte resistência à mudança. Estes consideram que o novo 901 não merece ser chamado de Porsche.

Confiante no sucesso do seu projeto, esta finalmente não será a principal preocupação de Ferry Porsche. Entretanto este é confrontado com a queixa apresentada pela Peugeot que revendica para si todas as denominações automóveis que utilizem o zero como número central. O que obriga Porsche a ter de encontrar urgentemente outra denominação para o seu modelo.

Embora legalmente a Peugeot tenha razão, as suas motivações no entanto, vão mais para lá do que a simples política comercial. Estas remontam à Segunda Guerra Mundial, em que durante a ocupação o pai Ferdinand Porsche assumiu os comandos da fábrica da marca francesa, expulsando a família Peugeot.
Depois de várias reuniões optou-se então por chamar-se o novo modelo de 911, que por sinal é o número de emergência dos EUA. Talvez seja um prenúncio, pois os EUA acabariam por ser o principal mercado do mítico Porsche.

Comercializado no ano de 1964, o novo 911 começa a conquistar gradualmente o seu público. Tal como Ferry Porsche pretendia, equipado com o novo motor boxer de 6 cilindros de 130 cv, para uma velocidade máxima de 210km/h, o Porsche 911 dá um salto qualitativo face ao 356. Talvez demasiado pensam alguns no seio da pequena marca.
Porsche 912
Programado para substituir o 356, o novo modelo apresenta no entanto um preço muito mais elevado. A solução chega com o Porsche 912 — um Porsche 911 equipado de um motor de 4 cilindros. O motor é recuperado do 356 SC com 102 cv, o que permitirá guardar assim, uma boa parte da clientela do anterior modelo que não tinha posses para aceder ao 911.

Em 1966, o 911 passa a estar disponível numa versão descapotável — o Porsche 911 Targa. Este deve o seu nome à corrida italiana Targa Florio, onde a marca alemã obteve várias vitórias. No ano seguinte, o pequeno construtor reestrutura a gama com novas versões: o 911 L (Luxe) de 130 cv, o 911 T (Touring) de 110 cv e o 911 S (Sport) com 160 cv.

A primeira geração 911, iria ainda conhecer a versão desportiva Carrera RS com 2.7 de cilindrada. Esta será uma das versões mais míticas do 911, facilmente reconhecível pelo seu emblemático spoiler traseiro “Ducktail” (rabo de pato).

Desenhada por Butzi Porsche, a primeira geração do Porsche 911 vai permanecer em comercialização durante 10 anos, criando os alicerces para a história de um automóvel que continua a ocupar uma posição à parte no panorama automóvel, pois é dos poucos a conseguir manter-se fiel às suas características originais ao longo dos anos. Uma história que conta já com 60 anos, e que não parece disposta a acabar tão cedo…