O ano de 1962 foi um ano fora de série para o mundo automóvel, utilizando a linguagem vinícola foi uma boa colheita. O ano de 1962 viu nascer emblemáticos modelos, tais como o Ferrari 250 GTO, o AC Cobra, ou ainda, o Alfa Romeo Giulia. O automóvel do dia é francês e é o arquétipo do desportivo francês — o Alpine A 110.
Como algumas da marcas automóveis mais emblemáticas, a história da Alpine é indissociável da do seu fundador. Tal como André Citroën e a sua marca aos “chevrons”, Enzo Ferrari e o “Cavalino Rampante”, ou Caroll Shelby e o AC Cobra. A Alpine é o resultado da ambição e persistência de Jean Rédélé na concretização de um sonho.

Filho de um concessionário Renault, desde cedo Jean Rédélé demonstra o seu interesse pela aeronáutica e pelos automóveis. O seu espírito empreendedor leva-o a ser o mais jovem concessionário da Renault em França.
Jean Rédélé era um verdadeiro gentleman driver, quando não está aos comandos do seu negócio este não perde a oportunidade para participar nas várias corridas locais aos comandos de um Renault 4CV.

A sua paixão pela competição leva Rédélé a participar em provas internacionais, onde o talentoso piloto obtém algum sucesso vencendo algumas provas na sua categoria.
Mas o ambicioso Rédélé não se quer ficar por aqui, e começa o idealizar o seu próprio automóvel. Um automóvel leve e performante.

Depois da construção de alguns protótipos que utiliza nas suas proezas de fim-de-semana, Jean Rédélé decide em 1955 criar a sua própria marca, à qual dá o nome de Alpine em homenagem à corrida ganha nos Alpes.

“Eu adorei atravessar os Alpes na minha Renault 4CV, e isso deu-me a ideia de denominar os meus futuros automóveis de Alpines. É importante para mim que os meus clientes tenham a mesma satisfação a conduzir ao volante do veículo que eu quero construir”.
Jean Rédélé
A génese
O primeiro automóvel da marca era o Alpine A106 que era, essencialmente, um Renault 4CV com uma carroçaria fastback em fibra de vidro, embora mais tarde tenham aparecido as versões coupé e descapotável. Desde logo o A106 começa a dar nas vistas nas provas desportivas e será o inicio de uma parceria com a Renault que irá fornecer os motores e varias peças à pequena marca.

Segue-se o A108, a concepção do novo modelo acaba por ser um prenúncio do que estará para vir com o A110. O A108 inaugura um chassis totalmente novo fabricado internamente pela Alpine. A carroçaria, esta continua em fibra e o motor traseiro é proveniente do Renault Dauphine.
Alpine A110
O Alpine A110 foi apresentado pela primeira vez, em 1962, este é o grande destaque da marca no Salão de Paris. Se à partida o A110 é considerado como uma mera evolução do modelo anterior, esta é na realidade muito mais profunda. Embora mantenha o mesmo chassis o novo A110 recebe agora os principais órgãos mecânicos da nova estrela da marca ao losango — o Renault 8. A carroçaria também ela sofreu modificações significativas para melhor se adaptar ao novo motor de 856 cm3 com 55 cv e ao posicionamento do radiador agora colocado na traseira.

Apesar da Alpine continuar a ser um modesto construtor, o certo é que mesmo assim consegue conquistar uma fiel clientela, graças a uma gama completa constituída por um coupé, um descapotável e uma versão 2+2 denominada GT4.
Ao longo da sua longa carreira o A110 vai evoluindo e propõe novas motorizações de 1108 cm3 com 66cv e mais tarde 95 cv com o motor do Renault 8 Gordini. Nos dias de hoje, é difícil chamar-se automóvel desportivo a um carro com tal potência, mas com um peso que não ultrapassa os 600 quilos e um baixo centro de gravidade não é preciso mais para se obter fortes sensações ao volante. Ainda para mais com o seu motor colocado em posição traseira o que obriga a algumas noções de pilotagem.

Industrialização e evolução.
Cada vez mais reconhecido pelos seus pares, o pequeno construtor continua a apostar na evolução do seu emblemático modelo, com versões cada vez mais desportivas e mais potentes, assim como, a sua carroçaria cada vez mais agressiva.

Em 1966 são assinados acordos com o Renault permitindo que a Alpine venda os seus modelos nos concessionários do gigante francês. As vendas como é lógico evoluem para números nunca antes atingidos, mas por outro lado a Alpine vai perdendo aos poucos o seu estatuto de marca independente.
As evoluções essas nõo param, o A110 vai evoluindo quer mecanicamente como esteticamente, este começa a contar com novos motores 1.3, o que lhe permite ultrapassar a barreira dos 100 cv. Mais tarde a chegada do motor 1.5, evolução que culminará com o 1600 SC de 138 cv.

Titulo mundial
Apesar da sua idade, o A110 vai atingir o seu apogeu desportivo na década de 70 ao conquistar três títulos mundiais de ralis consecutivos, em 1971, 1972 e 1973. Os sucessos desportivos são a imagem de marca da Alpine, o que no entanto, não impediram a debilidade financeira da modesta marca francesa. O patrão da Alpine vê-se obrigado a ceder a marca ao seu parceiro de sempre — a Renault.

Carreira internacional
A produção do Alpine A110 não se restringiu ao território francês. Consciente da necessidade de capital para financiar o seu projeto Redelé vendeu a licença de produção do seu modelo a vários países.
O Alpine A110 foi produzido em Espanha pela FASA-Renault. No México, a Diesel Nation produziu a sua própria versão denominada de Dinalpin enquanto que na Bulgária este foi produzido sob o nome de Bulgaralpine. O A110 foi ainda produzido no Brasil, pela Willys-Overland que o denominou Willys Interlagos.

Com 15 anos de carreira repletos de vitorias em ralis, o A110 apaga-se em 1978 para deixar o caminho livre ao seu sucessor A310. A “berlinette” como também é conhecido foi um dos marcos na produção automóvel francesa, apesar das 7 176 unidades produzidas. E será ele que inspirará os designer e engenheiros da Renault para o regresso da marca Alpine em 2017.
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