Com o ultimo Salão Automóvel de Paris marcado pelas ausências de uma grande parte dos principais construtores, a Dacia acabou a meu ver, por ser uma das estrelas do certame. Aquela que foi adquirida pela Renault para incarnar o papel de marca low-cost destinada aos mercados emergentes, está em plena mutação de conceito e está a assumir-se como uma marca cada vez mais importante no seio do Grupo Renault.

A história da marca romena criada em 1968 sob o impulso do ditador Nicolae Ceausescu, é uma das mais ousadas apostas industriais do milénio aquando a compra desta pela Renault. Pois em vez de desenvolver mais uma marca como as demais, Louis Schweitzer o então presidente da Renault opta deliberadamente por uma estratégia divergente.

A de propor um automóvel familiar mais barato do que um citadino, destinado à clientela dos países emergentes, com um preço máximo de 5000 euros. O desafio era enorme, obrigando a tecer uma estratégia e logística bem definida. A produção teria de ser feita próximo desses mercados e teria de utilizar-se o máximo de componentes já existentes na aliança Renault/Nissan para conter os custos.

Com a plataforma do Nissan Micra; o motor, a direção e os travões do Renault Clio, o Dacia Logan conquistou 50% do mercado romeno em pouco mais de dois anos. Mas a verdadeira surpresa, foi o sucesso que este encontrou na Europa, em mercados mais tradicionais como o francês, onde à partida nem estava prevista a sua venda.
Aposta numa gama
O sucesso crescente do Dacia Logan depressa levou a Renault a propor outros modelos para compor a gama. Surge então o Sandero, um citadino mais elegante, assim como a sua versão de “calças arregaçadas” o Sandero Stepway. Em 2010 é proposto aquele que é talvez o ex-libris da marca, o Dacia Duster, um SUV com um preço imbatível.

Mais recentemente o Dacia Jogger, que propõe um misto entre a versatilidade de um monovolume, a silhueta de uma carrinha e o aspecto de um SUV. E claro não podemos esquecer o Dacia Spring , que é nada mais nada menos o automóvel elétrico mais barato à venda no nosso mercado, honrando assim a filosofia da marca.

Aposta num novo conceito
Por falar em filosofia de marca, a presença no Mondial De L’Automobile foi aproveitada para mostrar a todos que a Dacia deixou de ser uma marca Low-cost, para assumir-se como “value for the money”, ou seja, uma marca focada no essencial.

A marca deixa de destinar-se aos clientes que não tinham os meios para comprar carro novo, para dirigir-se àqueles que escolhem a Dacia porque não querem comprar mais caro.

Este novo capitulo é assinalado com a mudança da imagem de marca, a grelha de todos os modelos recebe o novo logotipo pintado a branco e ostentam a palavra Dacia escrita de tamanho generoso no portão traseiro.

A nova imagem implica ainda a implementação de novos hábitos de produção mais amigos do ambiente, como a ausência de pele natural no interior dos seus modelos e de cromados, assim como o recurso ao uso de plásticos reciclados em áreas visíveis. Algumas desta ideias estavam representadas no Manifesto Concept presente também no Salão.

Numa altura em que a marca romena faz 18 anos sob o controlo da Renault, os números são encorajadores. A Dacia é a 3ª marca mais vendida na Europa, sendo o Duster o SUV mais vendido. Enquanto o Sandero assume-se desde há alguns anos como o nº 1 entre os compradores particulares. A Dacia representa atualmente cerca de 40% das vendas do grupo francês. Quem é que poderia ter previsto um tal desempenho!
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