Quando o respeitável construtor inglês AC lançou o seu descapotável ACE em 1953, os seus designers estavam longe de imaginar o incrível destino que aguardava este automóvel, tão elegante quanto inofensivo. Como é que poderiam prever que um ex-piloto americano cruzaria o Atlântico, escolheria este plácido modelo e transformar-lo-ia num dos maiores mitos do panorama automóvel do século XX ? O AC Cobra, como tantas vezes na história da industria automóvel, é o resultado da perseverança de um homem na concretização de um sonho que deu origem a uma lenda ancorada no imaginário colectivo. Inúmeras vezes imitado, o AC Cobra comemora 60 anos e não perdeu o seu poder de sedução.

Originário do Texas, Caroll Shelby faz parte daqueles que nada os impede de concretizar os seus sonhos, nem a derrota, nem a adversidade. Movido por uma vontade extraordinária e um incrível espírito empreendedor, foi piloto da US Air Force, depois instrutor, antes de se tornar criador de galinhas. Dizimadas por uma epidemia, obrigam-no a começar de novo.

Decidido a não baixar os braços, Shelby decide enveredar no automobilismo tornando-se piloto. Começa por ingressar na equipa inglesa MG (Morris Garage), depois passa pela Ferrari, representa a Maserati em formula 1 e culmina a carreira ao vencer as 24 horas de Le Mans em 1959 ao comandos de um Aston Martin DBR1. Infelizmente Caroll Shelby é obrigado a abandonar a carreira devido a problemas cardíacos.
Caroll Shelby tem um sonho. Construir um automóvel desportivo capaz de fazer frente à Ferrari, mas com um preço de venda três vezes inferior. E mais uma vez lança-se numa nova aventura.

Começa por contactar a britânica Austin Healey para o fornecimento dos chassis, mas acaba por chegar a acordo com os também eles ingleses da AC Cars que concordam em fornecer-lhe o chassi e carroçaria do seu modelo “Bristol” o qual Shelby pretende associar com o motor V8 da Chevrolet.
Enquanto os primeiros roadsters são enviados para os Estados Unidos. Será finalmente com a Ford que Shelby chega a acordo para o fornecimento dos motores. A escolha recai sobre o novo V8 260ci totalmente em alumínio, uma vantagem em termos de peso. A aventura AC Cobra está pronta para começar.

A verdadeira origem do nome Cobra é desconhecida. Mas diz-se que Shelby tinha sempre um bloco de notas na mesa de cabeceira onde tinha por hábito fazer anotações sobre os sonhos da noite anterior. Reza a história que numa bela manhã anotou o nome Cobra, que considerou como um sinal que este deveria ser o nome da sua marca.
Apresentado no stand Ford no salão de Nova Iorque de 1962, o AC Cobra desperta a atenção do publico. Pintado de amarelo, Shelby terá o cuidado de pintar este modelo único com uma nova cor antes de cada salão ou dos ensaios realizados pelos jornalistas, levando a pensar de que se tratava de carro diferente.

Foram construídos uma primeira serie de 75 unidades, estes AC Cobra 260 são os mais raros de toda a linhagem. No ano seguinte o AC Cobra evolui e recebe o motor V8 4.7 l de 271 cv, passando a denominar-se AC Cobra 289.
Apesar do entusiasmo suscitado as vendas ficam um pouco aquém da expectativas. É certo que o Cobra era difícil de conduzir, pois o chassis tinha dificuldade em suportar a elevada potencia, o que era uma desvantagem face ao Ford Mustang ou o Corvette que eram bem mais práticos.

A reputação do AC Cobra virá da competição onde se revela como um forte concorrente face à Ferrari, à Aston Martin na Europa, ou ainda ao Corvette nos Estados Unidos. Se o AC Cobra 289 começa a ser reconhecido, aquele que tornou este automóvel um ícone foi o Cobra 427.
Cobra 427
Oficialmente o 427 é uma evolução do Cobra 289 ci, mas na verdade trata-se de um carro totalmente novo. O chassi foi feito por medida e reforçado, a carroçaria tem formas mais arredondadas e salientes e o motor é um V8 427 ci, ou seja com 7000 cm3 de cilindrada e 415 cv de potencia.

As performances deste pequeno automóvel são brutais, o exercício dos 0 aos 100 km/h faz-se em 4 segundos apenas e a velocidade máxima atinge os 260 km/h. O que depressa lhe valeu a alcunha de “o fazedor de viúvas”.

Com esta nova versão o sucesso nos circuitos aumenta a olhos vistos, mas não o suficiente para pretender vencer a prestigiada corrida das 24h de Le Mans. Surgirá então uma versão Hard Top – o Shelby Daytona Coupé. Este permite remediar as lacunas aerodinâmicas do roadster e será com este que Carol Shelby realiza o sonho de vencer a 24h de Le Mans à frente de uma armada de Ferraris 250 GTO.

Com um total de mil unidades produzidas o AC Cobra figura entre os automóveis mais procurados pelos colecionadores, em especial o 427 ci onde um original dos anos 60 se negoceia em redor do milhão de euros. Preço que pode ainda subir se se tratar de um exemplar com um histórico vencedor em competição.

As suas linhas inimitáveis, ao mesmo tempo sedutoras e agressivas fizeram do AC Cobra um automóvel sem equivalente e raro… ou quase! O renome do AC Cobra tornou-o num dos automóveis mais replicados do mundo. Caroll Shelby afirmava em tom de brincadeira: “Eu produzi um milhar de AC Cobra, hoje restam à volta de dez mil”.
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