Citroën Ami 6 : A obra-prima de Bertoni.

Apresentado no dia 24 de abril de 1961, o Citroen Ami 6 não deixa ninguém indiferente. Por esta altura a gama da Citroën era composta essencialmente de dois modelos, o popular 2 CV destinado à clientela rural e o majestoso DS destinado às elites. Entre estes dois carros míticos não existia nada, caberá ao Ami 6 preencher este vazio.

Nos anos 50, a Michelin proprietária da marca aos chevrons conclui o seu projeto de veiculo popular, o Citroen 2 CV apresentado em 1948. Este modelo permite o acesso à mobilidade a uma clientela mais modesta, mas a Citroën também representa a inovação lançando o sucessor do Traction Avant (mais conhecido entre nós por Arrastadeira), o Citroen DS. Com estes dois projetos consumidores de meios financeiros e humanos a gama ficou algo desequilibrada.

A Citroën começa desde logo a trabalhar esta lacuna com o novo projeto M, também conhecido internamente por AM (Automóvel Médio). Pierre Bercot, o presidente da altura impõe um caderno de encargos de difícil execução. O novo modelo deverá ter uma grande bagageira e uma boa habitabilidade, tudo isto num automóvel que não exceda os 4 metros de comprimento. Outra exigência, este deveria adoptar a tradicional configuração de três volumes, nem pensar em recorrer a uma 5ª porta, pois Bercot tinha aversão aos automóveis com o estilo de utilitários.

A Obra-Prima de Bertoni

Depois de desenhar os Citroën Traction Avant, 2 CV e DS, Flaminio Bertoni ficou mais uma vez encarregue da criação do novo projeto de gama média, e como é habitual as ideias transbordavam na sua cabeça. Para resolver a questão da habitabilidade adotou a chamada “linha Z”, que consistia no óculo traseiro invertido. Sendo a única solução viável num automóvel desta dimensões, depois de lhe ter sido recusado pela direção um engenhoso sistema de teto de abrir elétrico.

Outra das suas extravagantes ideias era o volante aquecido, que consistia em insuflar ar quente no tubo central da coluna de direção e que seria repartido através pequenos orifícios no revestimento em couro do volante. O que explica o maior diâmetro do tubo da coluna de direção do Ami 6, apesar desta solução não ter avançado.

Como vem sendo hábito na Citroën, o Ami 6 não se parece com nada existente no mercado, assumindo um estilo atípico e extravagante. Alem do óculo traseiro invertido, também a frente tinha um formato particular, levando mesmo alguns jornalistas a afirmar: “Parece que um elefante se sentou em cima do capô”.

O capô mergulhante era completado pelos inovadores faróis rectangulares da Cibié, uma estreia mundial num automóvel de série. O tejadilho era do tipo Pagode e os flancos compostos de linhas estampadas davam ao Citroën Ami 6 uma forte personalidade. Apesar de muitos considerarem o seu estilo barroco, Flaminio Bertoni considerava o Ami 6 a sua obra-prima.

Novo Projeto, Novas Ideias

Com o novo projeto M, também os engenheiros deram largas à sua imaginação, como uma nova plataforma com recurso à suspensão hidropneumática. Quanto a motores várias foram as hipóteses postas em cima da mesa: elaborar um novo motor 4 cilindros boxer a partir da junção de dois motores de 2 CV podendo este atingir a cilindrada de 950 cm3; utilizar o motor bicilindrico de 610 cm3 da Panhard de quem a Citroën era um dos principais accionistas.

Finalmente a Citroën vai optar pelas opções mais económicas, utilizando a plataforma e suspensões do 2 CV, assim como o seu motor que vê aqui a sua cilindrada aumentar para 602 cm3 e o consequente acréscimo de potência, agora com 22 cv, o que era considerado o suficiente para mover os 620 quilos do Ami 6.

Novo Modelo, Nova Fábrica

Com o projeto daquele que viria a ser o Citroen Ami 6 em pleno desenvolvimento, Pierre Bercot decide que é necessário a construção de uma nova fábrica para a sua produção. O local escolhido, Rennes-la-Janais, numa região sem qualquer tradição na industria automóvel o que obrigou a uma intensa formação de mão de obra especializada.

Os dados estão lançados, o Ami 6 acaba por recuperar os melhores atributos dos dois modelos existentes na gama Citroën: é uma espécie de “super 2 cv”em que herda a robustez e rusticidade do chassis e da mecânica; e um “mini DS” no qual se inspira no interior e no conforto oferecido aos seus ocupantes.

A Quinta Porta do Sucesso

Apesar das criticas positivas e de um primeiro ano de comercialização animador, as vendas do Citroën Ami 6 depressa começam a diminuir. O culpado é rapidamente identificado, o design peculiar do Ami 6 que não agradava a toda a gente é a sua principal desvantagem. A Citroën precisa de reagir.

Em 1964 chega a carrinha, apesar da aversão do presidente Pierre Bercot por este tipo de carroçaria, não teve outro remédio senão validar o lançamento do Ami 6 Break. Mais consensual e mais versátil o Ami 6 Break iria impulsionar as vendas e acabaria mesmo por ultrapassar as vendas da berlina, o que era inédito. A carreira comercial do Ami 6 está salva, tornando-se o automóvel preferido dos franceses em 1966.

Marketing Original

Também em termos de marketing o Citroën Ami 6 foi inovador com campanhas publicitárias direccionadas para tipos de clientela específica, como por exemplo: “O segundo carro ideal para senhoras”, ou ainda, no caso do Ami 6 Break A relação conforto/km mais barata do mundo”, ideal para as famílias.

O marketing sempre assumiu um papel importante na estratégia da marca aos chevrons, e foi incutido desde o início pelo seu fundador André Citroën, autor de campanhas publicitárias revolucionárias Seguindo esta tradição, a Citroën organizou um raide com dois Ami 6 Break de forma a demonstrar a sua resistência e qualidades dinâmicas. Designado por “Le Tour de Gaule d Amisix” este consistia numa volta a França com inicio em Rennes-la-Janais nas imediações da fábrica. Os dois Ami 6 completamente de série percorreram 2077 kms em 23 horas e 11 minutos, a uma velocidade média de 89,6 km/h.

Com uma produção total de 1 039 384 unidades, 483 986 berlinas, 551 880 breaks e 3518 entreprise (a versão comercial com 2 lugares). O Citroën Ami 6 despede-se em 1969 para deixar lugar ao seu sucessor o Ami 8.

O Ami 6 assume-se como um verdadeiro Citroën, senão vejamos possui linhas arrojadas e inconfundíveis, bem como apresenta algumas soluções técnicas inovadoras, e claro, convém não esquecer oferece aos seus ocupantes um conforto incomparável. O Ami 6 é daqueles carros que no inicio teve uma carreira difícil e controversa, mas que com o passar dos anos tornou-se num veiculo muito procurado pelos colecionadores. Pelo que se está interessado, é melhor não demorar pois os preços estão a aumentar a um ritmo elevado.

Vive a Tua Paixão!

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