Numa altura em que a Citroën ainda depositava grandes esperanças no SM, especialmente nos Estados-Unidos. Numa altura em que a Citroën ainda era a proprietária da Maserati e respirava o perfume transalpino, o carroçador italiano Bertone vê a marca aos “chevrons” como um provável cliente. Eis porquê confiou ao seu designer Marcello Gandini a realização dum moderno coupé com base no Citroën GS, denominado Camargue.

O GS Camargue não é uma proposta da Citroën, mas sim da Bertone. Passado o período dourado da carroçaria italiana dos anos 50 e 60, a década de 70 obriga o carroçador a adaptar-se. Pelo que o trabalho de um designer passa também por ser um comercial, este deve tentar seduzir os futuros clientes com novas propostas.

Obras-primas automóveis como o Lamborghini Miura, fazem de Marcello Gandini um dos designers mais requisitados do momento. A partir do fim dos anos 60, Gandini começa a explorar novas linhas mais angulosas nos seus desenhos, como no Alfa Romeo Carabo. Depois de ter desenhado o protótipo do novo Lamborghini Countach apresentado no Salão Automóvel de Genebra em 1971. Para a edição de 1972, Gandini é encarregue de seduzir a Citroën.
Citroën GS Coupé
Bertone decide então recuperar a base técnica do recente Citroën GS para desenvolver um moderno coupé, com a vantagem de mostrar à marca francesa uma nova orientação estilística a seguir e porque não aproveitar para propor um irmão mais novo ao Citroën SM.

O GS Camargue tem um estilo particularmente original. A frente é subtil e lisa, o seu capô imerso emana desportividade e as grandes superfícies vidradas iluminam o interior. Alguns detalhes como os faróis dianteiros relembram o estilo Citroën. É no entanto a parte traseira do GS Camargue que mais surpreende, com a bolha trapezoidal generosamente envidraçada que atua como porta traseira, assim como forma dos faróis traseiros ligados entre si.

Mais largo e mais baixo que o original, o GS Camargue recupera o mesmo motor, o pequeno 4 cilindros boxer de 1015 cm3 com 55 cv. Este coupé aproveita ainda a suspensão hidropneumática do GS, o que antevê um excelente comportamento dinâmico apesar da pouca potência do motor

O GS Camargue acabou por não convencer a Citroën que não deu andamento ao projeto. Se esta operação de sedução não funcionou, não se pode considerar um fracasso por parte da Bertone que acabaria anos mais tarde a estabelecer uma duradoura parceria com a marca francesa. Pois o protótipo Volvo Tundra recusado pelos suecos acaba por seduzir a nova direção da Citroën dando origem ao Citroën BX. Será ainda o italiano que se encarregará do design do Citroën XM, do ZX e mais tarde do Xantia. Quanto ao nome Camargue, Bertone venderá os direitos à Rolls Royce que o utilizará no seu coupé.