Faz hoje 26 anos, quando no circuito de Imola aquele que era para mim o melhor piloto de sempre, perdia o controlo do Williams que guiava e despistava-se na curva de Tamburello. Foi dos momentos mais marcantes que vi na televisão. Ali estava eu, incrédulo tomando consciência o quanto a vida podia ser ingrata. No dia 1 de maio de 1994, deixava-nos o piloto mais carismático da F1, que tanto podia chegar a ser obsessivo na procura da vitória, como podia ser um homem preocupado pelos graves problemas sociais do seu país, lutando com a mesma determinação para resolvê-los.
Nascido a 21 de março de 1960 em São Paulo, Ayrton Senna desde pequeno começou a evidenciar-se. Conduziu o seu primeiro kart aos 4 anos, uma máquina munida de um motor de corta-relvas construída pelo seu pai. Aos 13 anos entrou nas competições oficiais.
Em 1977, sagrou-se campeão Sul-americano de kart, feito que repetiu em 1978 e 1980. Esforçado, Ayrton Senna sempre teve como objetivo ser o número 1 e partiu para a Europa para continuar a aventura.
Passou pela Fórmula Ford, onde se sagrou campeão europeu de Fórmula Ford 2000 em 1982. A sua evolução não passou despercebida e passou para a Formula 3 onde continuou uma brilhante carreira.
Senna chegou à categoria rainha em 1984, aos comandos de um F1 da modesta equipa Toleman. E logo na sua temporada de estreia chamou a atenção de todos no Grande Prémio do Mónaco, ao fazer uma corrida do outro mundo, onde finalizou em segundo lugar, logo atrás de Alain Prost.
A Lição do Rookie Brasileiro
Corria o ano de 1984, para comemorar o regresso do Nürburgring ao calendário da F1 organizou-se uma grande festa. Um dos atrativos era uma corrida organizada pela Mercedes-Benz para promover o circuito e o recém-lançado Mercedes 190 E 2.3 16V, corrida que juntou os melhores pilotos mundiais tais como: James Hunt, Alain Prost, Niki Lauda, Stirling Moss, entre outros.
No meio de todos esses campeões estava o estreante Ayrton Senna, chamado à última hora para substituir Emerson Fittipaldi.
Aquela corrida a “feijões” era encarada na desportiva por todos os participantes, menos para um. Ayrton Senna viu aí a possibilidade de lutar de igual para igual com os melhores do mundo e foi o que fez. O dia 12 de maio ficará na história como aquele em que um rookie brasileiro bateu os melhores.
A Primeira Vitória
Foi no circuito do Estoril, aos comandos do monolugar da Lotus que Ayrton Senna obteve a primeira pole position da sua carreira. Foi o ponto de partida para 2 horas emocionantes, em que sob uma chuva torrencial Senna deu uma verdadeira lição de condução aos seus adversários. Venceu o Grande Prémio de Portugal 1985, terminando a mais de um minuto do segundo classificado. Este seria o início de uma relação especial com Portugal e os portugueses. E onde Senna iria revelar qual era a sua especialidade: a condução à chuva.
Mónaco o Preferido
Depois de uma primeira prestação no Mónaco, onde só não ganhou porque a corrida foi interrompida, o Grande Prémio do Mónaco será para Ayrton Senna a sua corrida preferida.
Considerada como uma das provas mais difíceis do mundo, onde é praticamente impossível ultrapassar, em que a margem de erro é ínfima e onde qualquer erro se paga na hora. O GP do Mónaco parece que foi talhado para Ayrton Senna, onde fez actuações inesquecíveis e venceu por 6 vezes (das quais 5 vitórias consecutivas), um recorde que perdura até hoje.
A Volta Perfeita
Ayrton Senna enfrentava as qualificações com precisão e furor, fazendo delas uma das suas especialidades. Conquistou 65 pole positions ao longo da sua carreira.
Podia não ganhar todos os Grande Prémios, mas era exímio ao fazer a volta perfeita, juntar todas as parciais numa só volta e cumprir o circuito no menor tempo. O GP do Japão em 1989, ficou na história como uma das melhores pole postion de sempre.
Ayrton nessa temporada estava na mesma equipa que o seu grande rival Alain Prost. Conduzia um carro exatamente igual ao do francês, mas mesmo assim conseguiu tirar 1,7 segundos à melhor volta de Prost. Impressionante.
Senna e o Honda NSX
Foi com a McLaren que Ayrton Senna atingiu o topo da sua carreira, com ela sagrou-se 3 vezes campeão do mundo de F1 (1988, 1990, 1991). Por essa altura a Honda era quem fornecia os motores à McLaren, o que permitiu o início de uma relação especial entre Senna e marca nipónica. Ficará para sempre conhecida a colaboração de Senna no desenvolvimento do Honda NSX.
Em 1989, Ayrton Senna estava no Japão a preparar a nova temporada F1, quando foi convidado pela Honda a experimentar o NSX e dar a sua opinião. Depois de algumas voltas, Senna não foi nada meigo na sua avaliação, queixando-se da falta de rigidez do chassis e da sua estabilidade. O que obrigou a Honda a reformular o modelo para atingir a eficiência que hoje todos conhecemos. Obrigado Ayrton Senna.
O Dia fatídico
A temporada 1994 começa. Nesse ano Ayrton Senna muda-se para a Williams-Renault, o mesmo ano em que a FIA proíbe a utilização das ajudas electrónicas que tinham feito do monolugar da Williams uma máquina imbatível. O automóvel foi desvirtuado, o que impõe enormes dificuldades ao Brasileiro para atingir os seus objetivos.
É chegado o Grande Prémio de San Marino, este será um fim-de-semana atípico, foram vários os acontecimentos que anunciaram um final trágico. Logo na sexta-feira com o aparatoso acidente de Barrichello nas qualificações, no sábado nova tragédia com a morte de Ratzenberger nos treinos livres, deixando Senna perplexo e preocupado com a segurança dos pilotos.
Apesar de tudo a corrida a não é anulada, os interesses económicos falaram mais alto. O início da corrida é desastroso com o grave acidente que envolve J.J Lehto e o português Pedro Lamy, projectando destroços nas bancadas e ferindo alguns espectadores.
A corrida continua, desde logo Ayrton Senna assume o comando de aquela que seria a sua última corrida.
1 de maio às 14h17 acontece o impensável, Ayrton Senna perde o controlo do seu Williams na curva de Tamburello a mais de 200 Km/h. Vivia-se um dos momentos mais dramáticos da Fórmula 1 em direto na TV.

Jamais esqueceremos o seu capacete amarelo às riscas azul e verde, com as cores do seu país que ele tanto gostava.
Morreu o homem, nasceu a lenda.
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