Entre os automóveis que são capazes de nos fazerem sonhar, destacamos frequentemente as marcas de prestígio, nomeadamente as italianas. Mas há marcas generalistas que conseguiram por vezes surpreender, o Toyota 2000 GT é um bom exemplo. Este é um automóvel digno dos melhores modelos europeus, representando o que de melhor se fazia no país do sol nascente. O Toyota 2000 GT foi o primeiro GT japonês, aquele que mostrou ao mundo que agora teriam que contar com os japoneses.
No início dos anos 60, os construtores japoneses não tinham uma imagem de marca consolidada para além das suas fronteiras, bem pelo contrário. É no mercado das duas rodas que marcas como a Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki já incomodavam as conceituadas marcas, fossem elas europeias ou americanas.
É precisamente a Honda a primeira a internacionalizar-se, optando para isso pelo pequeno desportivo, com a produção dos S360 e S500 que darão origem à famosa
S-Series da marca.
Por esta altura, a Toyota conhecida pela produção de veículos comerciais e de plácidos automóveis de passageiros, decide que é chegado o momento de mostrar ao mundo do que é capaz de fazer. A Toyota vai optar por seguir a mesma estratégia da Honda e lançar-se na produção de um desportivo 100% Japonês.
Para isso, a Toyota compra alguns dos melhores desportivos do momento, como o Lotus Elan, o Jaguar Type-e ou ainda um Honda S800. Vai testá-los e desmontá-los para uma análise aprofundada. Em 1962 o projeto começa a ganhar forma e é apresentado um protótipo.
Obrigado Nissan!
Os construtores japoneses estão a apostar forte nos pequenos desportivos, e claro a Nissan dá início ao seu projeto. A Nissan por seu lado deseja um verdadeiro GT com um motor de pelo menos 2 litros de cilindrada.
Nasce o projeto Silvia, a Nissan vai contratar o designer Albrecht Von Goetz conhecido por ter desenhado o magnífico roadster BMW 507 e a Yamaha para dar forma ao projeto. Mais conhecida pela produção de motociclos e de pianos a Yamaha vai encarregar-se da execução do chassis pelo seu departamento de engenharia.
Apesar das suas ambições, a Nissan abandona o projeto após a produção de alguns protótipos, deixam a Yamaha e Von Goetz livres para venderem o projeto. Este acaba por cair nas mãos da Toyota que vê a oportunidade ideal para a sua internacionalização. O projeto da Yamaha vai juntar-se ao pequeno desportivo Sports 800 da Toyota que estava praticamente pronto. Assim surge o
Toyota 2000 GT.
O design deste Toyota 2000 GT é fortemente inspirado das realizações europeias: com um perfil de Jaguar Type-e com o seu longo capot e uma traseira do tipo fastback bem ao estilo Ferrari. Um perfil que cria a ilusão que estamos perante um grande GT quando na verdade mede apenas 4,17 metros, o que se reflete no interior que é minúsculo oferecendo apenas 2 lugares.
Quanto ao motor, a Toyota vai utilizar o sólido 6 cilindros em linha do Toyota Crown que vai passar pelas mãos da Yamaha para o tornar mais desportivo. Entre outras alterações, a alimentação passa a ser feita por três carburadores duplos o que eleva a potência para os 150 cv.
Ambições Desportivas
Revelado em 1965 no Salão de Tokyo, o Toyota 2000 GT faz sensação, com o seu perfil desportivo e um peso que ultrapassa apenas os 1000 kg, este é capaz de atingir os 220 Km/h, o que confirma a sua ambição desportiva.
Durante o ano de 1966, o 2000 GT vai evidenciar-se nos circuitos japoneses batendo alguns recordes de velocidade e ganhando algumas competições tais como: os 1000 kms de Suzuka.
Nesse mesmo ano é feita a sua apresentação internacional em São Francisco, tendo recebido fortes elogios por parte da imprensa americana, o que anuncia um futuro radiante do modelo nesse país.
É verdade que o 2000 GT dispõe de vários argumentos, é um coupé elegante, tem um interior completo e luxuoso, revestido da melhor madeira utilizada nos pianos da Yamaha e ainda consegue performances respeitáveis. Será no entanto necessário esperar pelo ano de 1967, para o início da sua comercialização, após alguns ajustes técnicos para melhorar a fiabilidade.
Ao Serviço de Sua Majestade
O Toyota 2000 GT vai ser protagonista de cinema e participar no filme “Só se Vive Duas Vezes” da saga James Bond. Fiquem descansados os fãs, James não foi infiel à Aston Martin, pois neste filme não conduziu, apenas foi o passageiro da sexy agente secreta Aki. Para o filme foram usados dois exemplares do 2000 GT numa versão exclusiva, pois a produção constatou que o ator Sean Connery com os seus 1,88 mt não cabia no minúsculo habitáculo do coupé. O que obrigou a Toyota a transformá-los em cabriolet.
A carreira comercial do Toyota 2000 GT será confidencial, serão apenas produzidos 351 exemplares até 1970, dos quais os dois cabriolets usados no filme e alguns exemplares adquiridos por Carol Shelby para alinhar no campeonato de turismo americano.
De todas as formas já se esperava que as vendas não atingissem grandes volumes, pois o seu preço mais elevado que a concorrência, a sua falta de prestígio e a desconfiança pelos produtos nipónicos por parte dos clientes visados impediram o seu sucesso.
Apesar de tudo a Toyota conseguiu satisfazer as suas ambições com o 2000 GT, o de melhorar a sua imagem passando de um construtor de automóveis rústicos e populares a um construtor capaz de produzir automóveis sofisticados e desportivos, mostrar ao mundo que a partir de agora há que contar com os japoneses.
Hoje as qualidades do Toyota 2000 GT, tanto estéticas como técnicas são evidentes. A sua raridade e o interesse dos colecionadores tornaram-no num automóvel inacessível negociando-se por valores superiores a um milhão de euros.
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