Substituir um modelo mítico não é tarefa fácil. Que o diga a Volkswagen quando decidiu substituir o Volkswagen Type 1, ou se preferirem conhecido por cá como Carocha, ou ainda como Fusca para os nossos amigos brasileiros. Foram várias as tentativas, como foi o caso do projeto EA 266 que vamos falar hoje. Um projeto anulado à última hora, quando estava tudo pronto para a sua produção e que se tornou no elemento da discórdia no seio da empresa.
Estamos em meados dos anos 60, a Volkswagen é uma marca próspera, mas muito dependente do seu modelo Type 1 mais vulgarmente conhecido entre nós por Carocha. Ao seu lado está o Karmann Ghia e o Combi (Pão de forma) que se vendem relativamente bem nas respectivas categorias, mas os outros modelos como o Type 3 e o Type 4 não atingiram os objetivos fixados.
Com cerca de 15 anos de carreira, o Carocha começa a envelhecer e perde o ritmo face aos seus concorrentes. É altura de pensar-se não sua substituição, tarefa que se vai revelar bastante difícil como vamos ver em seguida.
A Volkswagen vai fazer apelo à Porsche para o desenvolvimento do sucessor do Carocha, que como é sabido também ele tinha sido projectado por Ferdinand Porsche. Desta vez quem vai comandar as operações será o seu neto Ferdinand Piëch.
A Porsche vai seguir a filosofia da Volkswagen e vai manter o motor traseiro arrefecido a ar. Em 1969 vai propor o protótipo EA 266, com pouco menos de 4 metros de comprimento, dotado de um motor quatro cilindros boxer de 1588 cm3 com 100 cv, colocado longitudinalmente sob o banco traseiro. O EA 266 possui duas bagageiras, uma na frente outra atrás e o seu design é entregue a Anatole Lapine que mais tarde irá desenhar também o Porsche 928.
Convencidos da viabilidade do projeto, os dirigentes da Volkswagen encomendam 50 unidades do EA 266 para poderem realizar vários testes. Desde logo, os primeiros testes começam a revelar os defeitos do protótipo.
A posição do motor sob o banco traseiro impõe uma posição mais elevada para os passageiros, o que se ressente na habitabilidade, a isso acrescenta-se o calor e o ruído sentido no habitáculo e para terminar alguns problemas de arrefecimento do motor.

Apesar disso os testes do EA 266 vão continuar. Entretanto a Volkswagen vai tentar outra solução, que começa a ser cada vez mais utilizada pelos seus concorrentes. Para isso, vai pedir aos seus engenheiros para desenvolver outro protótipo, mas desta vez de tracção dianteira com o motor do Carocha instalado à frente. Nasce o projeto EA 276, este por seu lado depressa foi abandonado pelos dirigentes da marca que o consideraram pouco funcional e nada bonito.

Giugiaro Entra em Cena
Salão de Turim em 1969, uma delegação da Volkswagen visita o stand da Ital Design e contacta Giorgetto Giugiaro, para conceber aquele que seria a primeira geração do Volkswagen Passat. O objetivo é claro, os novos dirigentes querem aproveitar as capacidades técnicas da recém adquirida Audi e os seus novos motores para desenvolver uma nova gama de veículos, que culminará com o Passat e mais tarde o Sirocco.
Entretanto o desenvolvimento do projeto EA 266 continua e a direção da Volkswagen decide avançar para a sua produção, encomendando para o efeito toda a maquinaria necessária à sua linha de montagem.
Em 1971 tudo muda, a Volkswagen vê os seus lucros baixarem drasticamente e é nomeado um novo presidente. Este quer marcar o território e apenas três semanas após ter tomado posse interrompe o projeto EA 266. Esta é uma decisão inesperada, pois estava tudo pronto para a sua entrada em produção.
Afasta definitivamente a Porsche do processo de renovação do Carocha e ordena a Ferdinand Piëch a destruição de todos os protótipos EA 266 ( à exceção de um conservado hoje no museu Volkswagen), projeto ao qual este apostava plenamente.
Hà quem diga que foi esta humilhação que despoletou o início de uma vingança, que o levaria a atingir anos mais tarde o lugar de todo poderoso do grupo Volkswagen.
Após o fracasso do Volkswagen EA 266, a urgência é grande. A Volkswagen precisa de outro projeto e Giugiaro aproveita a oportunidade. Apenas alguns meses depois, apresenta o novo projeto EA 337 que viria a transformar-se no mítico Golf.
Estava enfim encontrada a solução.

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