Marcas como a Maserati, Panhard, Mors, Berliet e a Ligier, estiveram durante mais ou menos tempo integradas na marca aos “chevrons”. Assim como a Autobianchi, que de certa forma esteve associada à Citroën. Esta é a história desconhecida da Citroën.
Este é o ano do centenário da Citroën, 100 anos de história cheios de avanços e retrocessos. A sua história divide-se em três grandes períodos : o início pelas mãos do seu fundador André Citroën, os anos sob gestão da família Michelin e a aquisição da marca pela Peugeot formando o grupo PSA. Mas existe outra história da Citroën desconhecida pela maioria. Quem se lembra que a Citroën foi durante sete anos a proprietária da Maserati, esta e outras marcas estiveram associadas à Citroën dando origem a uma história paralela.
Mors
Fundada em 1895 pelos irmãos Émile e Louis Mors, a “Société d’Apareils Electriques Et Automobiles” que anteriormente se dedicava à produção de material elétrico, decide então apostar na nova e prometedora indústria automóvel. A Mors será um dos pioneiros da indústria automóvel francesa, destacando-se pela introdução de tecnologias inovadoras como por exemplo o motor V4. A empresa vai especializar-se na produção de automóveis de prestígio e na competição automóvel onde obteve várias vitórias.

Em 1906, a empresa atravessa um período difícil e André Citroën é nomeado diretor geral da empresa. Em 10 anos André Citroën triplicou a produção, assumindo um papel cada vez mais importante na empresa. Com a chegada da primeira Grande Guerra a Mors vai ser integrada no esforço de guerra. Chegado o fim do conflito, o país precisa de reconstruir-se pelo que os automóveis de luxo já não são de atualidade. A divisão automóvel da Mors acabaria por ser absorvida pela Citroën, depois de uma última participação no Salão Automóvel de 1924.
Assim a Mors servirá de rampa de lançamento a André Citroën para a criação da sua própria marca. Este vai conservar as instalações da Mors na Rue du Theatre em Paris, onde será criado o mítico centro de estudos e design da Citroën, donde nasceram os modelos históricos da marca.
Panhard de Salvador a Carrasco
A Panhard & Levassor é outras das marcas que vai pertencer à Citroën. A Panhard & Levassor é o primeiro construtor automóvel do mundo, aquele que ganhou a primeira corrida automóvel da história, uma das marcas mais inovadoras do início do século XX.

Após a Segunda Guerra Mundial a Panhard viu-se obrigada a apostar nos automóveis populares, mas não renunciou à inovação tecnológica pelo que os seus modelos destacavam-se da concorrência. Apesar de automóveis geniais estes vendiam-se em pequeno número e eram muito caros a produzir.

A partir dos anos 50, a Panhard possui uma fábrica antiquada e graves dificuldades financeiras. Estabelece então um acordo com a Citroën, que entra em 25% do capital e que se compromete a distribuir a Panhard na sua rede. A Citroën vê nessa parceria a possibilidade de aumentar a produção do Citroën 2cv, encarregando a Panhard da produção das furgonetas 2cv AZU.

Os anos foram passando e a Citroën acaba por tomar o controlo de empresa. Apesar das expectativas dos homens da Panhard para desenvolver a marca, os homens da Citroën, por seu lado, vêm os automóveis Panhard como concorrentes e não como aliados, acabando por travar a expansão da empresa. Limitando-se a aproveitar a utilização da fábrica para a produção dos seus próprios veículos, a Citroën anuncia o fim da Panhard em 1967.
Maserati o Luxo Italiano
O presidente da Citroën Pierre Bercot, ambicionava colocar a marca num posicionamento mais “premium”como se diz agora, daí o seu desinteresse pela Panhard, estando mais preocupado com o estudo de um novo modelo topo de gama. Para isso, procurava um motor de prestígio, vai então consultar a Maserati para a produção de um V6.

No final dos anos 60 a Maserati propriedade então da família Orsi, atravessa problemas financeiros graves e aceita a encomenda de Citroën para fazer entrar dinheiro. Alfieri encarregado do projecto vai então começar a trabalhar no assunto, mas dadas as dificuldades da empresa o desenvolvimento do novo motor arrasta-se e a Citroën decide-se pela aquisição da Maserati. Pierre Bercot vai injectar muito dinheiro para relançar a marca do tridente, dando liberdade total ao eng. Alfieri. Este não se fez rogado e aproveita para renovar por completo a gama com o Maserati Bora(V8),Merak(V6) e Khamsin (V8 instalado em posição dianteira).

No entanto as vendas não evoluíram o esperado, os amantes da marca não viram com bons olhos o aparecimento da tracção dianteira e da suspensão hidráulica, que segundo eles retirava a identidade da marca do tridente. A Citroën não teve outro remédio que abandonar o sonho italiano, vendendo a Maserati.
Autobianchi
No final dos anos 60, a Citroën assina uma parceria técnica e financeira com a Fiat. Esse acordo quase permitiu aos italianos de adquirir a Citroën, não fosse a intervenção do estado francês. O acordo consistia no desenvolvimento de uma gama de utilitários e a introdução da Autobianchi na rede Citroën em vários países como: Portugal, França, Suíça, Bélgica e Luxemburgo. Por seu lado a Citroën era distribuída pela Autobianchi na Itália.

A Autobianchi era na altura a marca tecnológica do grupo Fiat, onde eram testadas as novidades. Faziam parte do seu portfólio modelos como o A112, o pequeno citadino moderno que tanta falta fazia à Citroën para fazer face à concorrência. Mais uma vez esta parceria não trouxe os seus frutos, pois os concessionários da altura não eram muito dados a misturas, interessando-se apenas pelos modelos da sua própria marca.
Citroën Construtor de Pesados
Para muitos, a Citroën é conhecida pelo conforto da sua suspensão hidráulica e a irreverência dos seus modelos, mas também foi construtor de pesados. Desde o início André Citroën fez questão de estar presente neste segmento, possuindo até uma companhia de autocarros para promover a marca. Ora a família Michelin proprietária da Citroën decide entrar no capital da Berliet, para desenvolver a divisão de pesados da marca que sofria problemas de distribuição.

Esta união permitiu o desenvolvimento de projetos comuns como o Berliet-Citroën K também conhecido como “Dauphin”, que utilizava o sistema de travagem do Citroën DS. Aos poucos o nome Citroën foi desaparecendo tornando-se apenas Berliet. Com a falência da Citroën o novo proprietário apressa-se a vender a Berliet à Renault que aproveitou a situação para criar a RVI (Renault Veículos Industriais) que resultava da fusão entre a Berliet e a Saviem.
Ligier a Parceria Relâmpago
A Ligier conhecida atualmente como construtor de quadriciclos, foi em tempos uma conhecida equipa de F1. O seu fundador Guy Ligier, ambicionava tornar-se também construtor automóvel. O seu primeiro automóvel foi o Ligier JS2 (em homenagem a Jo Shlesser seu sócio e amigo falecido num acidente no grande prémio de França de 1968). O Ligier JS2 era uma evolução do seu modelo de competição JS1.

Na altura à procura de um motor para equipar o novo Ligier JS2 e mediante a recusa do seu parceiro Ford em fornecer-lhe o seu V6. Guy Ligier vai então utilizar o motor Maserati do Citroën SM. Para isso vai estabelecer um acordo em que a Citroën vai tornar-se acionista da Ligier e distribuir o Ligier JS2. Foi sol de pouca dura, o acordo durou apenas dois anos de 1973 a 1975.
Este foi sem dúvida um período fértil em aquisições e parcerias de todo o género da marca aos “chevrons”. Mas fruto de uma gestão nem sempre indicada, não trouxeram vantagens para a Citroën, precipitando nalguns casos a sua queda.
Vive a Tua Paixão!
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