Estávamos no conturbado ano de 1968, mais precisamente em Maio, o ambiente em França estava a ferro e fogo em pleno movimento de contestação dos estudantes. Eis que nasce um automóvel revolucionário, bem talvez me tenha entusiasmado (o meu lado citroënista tomou o controlo). No entanto, acabará à sua maneira por marcar a história automóvel, tendo uma quota de simpatia enorme, encaixa na perfeição a filosofia atual da Citroën – o espírito “Feel Good”. É o Citroën Méhari, já lá vão 50 anos.
Nos finais dos anos 50 e na década de 60 alguns carroçadores italianos propõem veículos de lazer com base no Fiat 500, obtendo algum sucesso. O que levou alguns construtores a investir nesse nicho de mercado como a BMC (British Motor Company) com o Mini Moke.
Foi precisamente este modelo que inspirou Roland de La Poype, ex-combatente da 2a. Guerra Mundial e proprietário da SEAB uma empresa especializada na moldagem de plástico, de criar uma carroçaria em plástico que pudesse ser vendida em kit, montada numa base de um veículo já existente. Como era o caso do Buggy Americano.
Em França o Renault 4 ou o Citroën 2cv poderiam ser boas opções para servir de base. O escolhido será o Citroën 2cv, pois o Renault 4 tinha o radiador à frente o que impedia de baixar a frente da carroçaria o suficiente como era pretendido.

Roland de La Poype confia o desenho da carroçaria a Jean-Louis Barrauld e reúne uma equipa de engenheiros para trabalhar no projeto. A carroçaria seria realizada em ABS – uma mistura de plástico com borracha colorida na própria massa, resistente a pequenos choques e sobretudo ligeira (pesava cerca de 65kgs). Para desenvolver o protótipo foi utilizado um furgão 2cv AK da empresa que foi todo desmontado para servir de cobaia. Donkey foi o nome escolhido para o modelo tendo como logotipo a cabeça de um burro.
O protótipo estava pronto, como tinha base Citroën e aproveitando a boa relação com a marca, pois a SEAB já fornecia alguns componentes plásticos para o Citroën DS e Ami 6. Roland de La Poype foi apresentar o modelo com o objetivo de ter o apoio da Citroën para a sua produção em kit. Inesperadamente o presidente Pierre Bercot não só aceita o projeto como pretende incluí-lo na gama da Citroën, vendo este automóvel mais como um utilitário. Quanto ao nome Donkey vai preferir Méhari (dromedário do Norte de África usado como meio de transporte pelo exército francês) o nome ideal para transmitir a imagem de sobriedade, economia e resistência.
Dyane 6 Méhari
Este era o seu nome oficial, pois embora tivesse por base a forgoneta 2cv estava associado à gama Dyane, utilizava o motor de dois cilindros opostos de 602 cm3 de 28 ch do Citroën Ami 6, enfim, uma verdadeira misturada.
Foi preparada uma pré-série de 12 veículos para serem apresentados à imprensa especializada, foram escolhidas cores vivas para a operação de charme, com a presença de modelos como se se tratasse de um desfile de moda.

No dia 16 de Maio de 1968 era feita a apresentação oficial com pompa e circunstância, em Deauville uma estância balnear francesa, mas esta passou completamente despercebida devido às greves e manifestações de Maio 68. Foi preciso esperar pelo salão automóvel do mês de Outubro para que os franceses descobrissem o Citroën Méhari; que tinha sido imaginado como um veículo utilitário pela Citroën e afinal vai tornar-se o principal veículo de lazer francês com uma carreira de 19 anos com 144883 exemplares fabricados.

Ao longo de 19 anos de fabricação apenas foi sofrendo ligeiras exteriores, como o posicionamento dos piscas traseiros e dianteiros e no interior com um novo painel de instrumentos oriundo do Citroën LN.
Em 1970 é apresentado um modelo export US com alterações específicas para responder às exigentes normas americanas, tendo conseguido um pequeno sucesso nas zonas costeiras. No ano de 1979 entra em cena o Méhari 4×4 que não encontrou a clientela desejada, tendo vendido apenas 1213 exemplares. Hoje é modelo mais procurado pelos colecionadores e logo o mais caro.
A partir dos anos 80 as vendas vão diminuindo progressivamente, o que provocou o fim da produção em 1987.

e-Méhari
Em 2015, a Citroën aproveita o salão de Frankfurt para apresentar um concept car evocando o Méhari, com base no Citroën Cactus – o Cactus M, que por sinal era bem simpático, mas infelizmente não passou disso. A Citroën preferiu uma parceria com a Bollorée que já possuía o Bluesummer, um veículo elétrico, mas procurava uma fábrica para a sua produção. A Citroën viu a oportunidade de construir um veículo ao menor custo e ainda por cima elétrico. Foram feitas algumas alterações estéticas e está feito, sabendo de antemão que o objetivo não era o volume de vendas, mas sim dar que falar, utilizando a imagem do Méhari e surfar sobre esta nova tendência dos automóveis elétricos.
O Citroën Club Cassis adquiriu em 1998 a maquinaria à Citroën para poder recriar o modelo, propõe assim a renovação e reconstrução de “Méharis”. Apresentou recentemente o Eden Cassis um quadriciclo que mantém a carroçaria original equipado de um motor elétrico.

Se procura um Citroën Méhari saiba que os preços não param de subir atingindo valores verdadeiramente exagerados, conte em média 15000 euros chegando por vezes aos 20000 euros conforme o estado de conservação.
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