Se Portugal não é um país com tradição na construção de automóveis, não quer isso dizer que não se vive a paixão automóvel intensamente, tendo sido importado o primeiro veículo logo no ano 1895, ainda a indústria dava os primeiros passos. Este chegou pelas mãos do Conde de Avilez, de Santiago do Cacém, tendo protagonizado algumas peripécias na sua viagem inaugural.
Após uma viagem a Paris, D. Jorge de Avilez comprou um veículo revolucionário na época – o automóvel. Tratava-se de um Panhard & Levassor, era um carro com uma arquitetura que se tornaria um clássico. O Panhard contava com um motor dianteiro bicílindrico em V de 1290cm3, potência de 4 CV a 750 rotações por minuto, podendo atingir a estonteante velocidade (para a época claro) de 20Km/h.
Ao chegar a Lisboa, o Panhard & Levassor protagonizou a primeira peripécia, pois na Alfândega ninguém sabia classificar a mercadoria para poder aplicar a taxa de importação . Seria uma máquina agrícola ou uma locomobile (máquina a vapor)? Decidiu-se pela segunda hipótese.

Depois de montar as várias peças e colocar em marcha o seu motor de explosão numa oficina de carruagens da baixa lisboeta, o carro estava pronto para iniciar a sua viagem até Santiago do Cacém, que iria durar três dias. A sua primeira etapa foi até Palmela, onde vai ser protagonista do primeiro acidente de viação em Portugal. Á entrada da vila, surge um burro teimoso no meio da estrada e o choque foi inevitável . O atropelamento provocou a morte do animal e o dono do burro foi imediatamente recompensado pela quantia de 18 mil réis, o triplo do valor do animal naquela época.
Em 1895, e como não existiam estações de serviço nesta altura, na hora de abastecer, o seu proprietário resolveu atestar petróleo de iluminação em vez de benzina. Resultado: o carro engasgou – se e parou; foi necessário limpar o motor e o depósito para que o veículo voltasse a rodar.
A chegada do excêntrico veículo a Santiago do Cacém causou sensação e espanto entre os habitantes da pacata localidade alentejana.
Diz-se que D. Jorge utilizava regulamente o seu automóvel para as suas deslocações a Beja e Évora. Estas viagens eram autênticas aventuras pela quase inexistência de estradas dignas desse nome e bastante difíceis, pois o carro estava equipado com rodas de madeira e aros de aço como as carruagens e o conforto não abundava.

Depois de vários proprietários, o Panhard & Levassor é hoje propriedade do Automóvel Clube de Portugal e podemos encontrá-lo no Museu dos Transportes e Comunicações, no Porto. Se for ao Porto, não deixe de lhe fazer uma visita, eu já pus na minha agenda.